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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Ruth Cardoso deixa sua marca no campo do Artesanato Brasileiro




Faleceu na noite de ontem a Antropóloga e ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Acadêmica conceituada, professora da Universidade de São Paulo, teve inclusive atuação internacional, lecionando na Europa e nos Estados Unidos. Nascida em 1930, em 19 de setembro, tinha 77 anos.

Uma das marcas de sua trajetória foi a atuação política, na preocupacão social com as questões da juventude e da pobreza. Sua ação no campo social foi no sentido de operacionalizar políticas públicas visando a transformação nos meios de vida da população mais necessitada. Possuia uma visão não-assistencialista dos programas sociais, conforme ficou evidenciado durante o período em que ela atuou como primeira-dama.

Ela acreditava que era preciso capacitar os indivíduos para que se tornassem agentes com competência de promover seu próprio desenvolvimento, tornando-os capazes de lutar pelos seu próprio sustento e pela melhoria das condições de vida.

O Programa do Artesanato Solidário, com o qual tive algum contato durante a realizacão da pesquisa sobre o Artesanato de Brasília, foi pensado como uma resposta ao problema da pobreza e da seca, recorrente e sem soluções definitivas na região do nordeste brasileiro.

Começou como um projeto de capacitação e geração de renda.
A situação de pobreza que convive com um rico patrimônio cultural ligado a fazeres artesanais tradicionais levou a elaboração de uma política de valorização dessa produção artesanal de caráter singular.

Assumido o desafio de promover o desenvolvimento de condições de produção artesanal que respondessem a um ritmo viável para a sua integração em redes produtivas e comerciais em escala nacional, surgia o Comunidade Solidária.
Um dos propósitos principais, ao lado da geração de renda, era a preservação dos modos de vida das comunidades locais e a utilização sustentável dos recursos e da matéria-prima disponíveis.

Enfim, Ruth Cardoso foi responsável por lançar as bases do Programa do Artesanato tal como ele é conhecido hoje, pois embora a orientação política atual, do Governo Lula, não seja a mesma de FHC, antes uma oposição aquela, o programa de Ruth Cardoso estabeleceu as diretrizes que foram incorporadas e continuam atuantes no campo do artesanato brasileiro.

por Aline Sapiezinskas.

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Repercussões na Mídia

Intelectuais e amigos próximos da ex-primeira dama Ruth Cardoso lamentaram nesta quarta-feira (25) a morte da antropóloga, que faleceu nesta terça-feira (24) em casa, no bairro Higienópolis, em São Paulo (SP). Para eles, dona Ruth - como era carinhosamente chamada - era um exemplo de mulher que soube articular a vida acadêmica com a vida pública.

O antropólogo Luís Roberto Cardoso de Oliveira, 54, presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e sobrinho de Ruth Cardoso, disse que o Brasil perdeu uma grande intelectual.

“Para nós [da ABA] é uma enorme perda. A Ruth teve um papel muito importante na antropologia brasileira - primeiro como professora da Universidade de São Paulo e depois como mulher pública. Ela sempre articulou com perfeição a sua atividade acadêmica com o engajamento político não-partidário. A trajetória dela tem essa marca muito forte, com posicionamentos políticos firmes e moderados ao mesmo tempo”, disse.

O cientista político Bolívar Lamounier, 65, amigo pessoal da ex-primeira dama, também elogiou seu posicionamento como professora e mulher pública. Ele contou que conheceu Ruth Cardoso na década de 70, quando começou a trabalhar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


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“Particularmente, acho que ela desempenhou brilhantemente todos os papéis que ocupou - como professora, como pessoa pública ou como pessoa privada. Ela nunca precisou fazer nada de aparências, era uma pessoa exemplar, com uma autenticidade muito grande. Ruth nunca ficou deslumbrada e nunca tentou ser quem não era por causa de seu papel público. Ela soube fundir os papéis muito bem, sem nenhuma dificuldade. Era um modelo de pessoa, de uma grandeza extraordinária”, declarou.

Amiga pessoal e também professora da USP, a antropóloga Eunice Durham, 76, ficou emocionada ao falar da morte de Ruth Cardoso.

“A Ruth é unanimidade nacional. Você não vai encontrar ninguém que tenha nada para falar contra ela, nem mesmo os adversários políticos. Ela era uma pessoa admirável e fará muita falta. Sempre tratou a vida pública com lisura e respeito, pois tinha uma visão política extremamente lúcida”, disse a professora, que conheceu a ex-primeira dama em 1956, quando passaram a dividir a cadeira de antropologia da USP.

“Dividi com ela mais de 50 anos de amizade e colaboração intelectual. Em todo esse tempo, ela nunca me desapontou, ela é um verdadeiro exemplo.”

Para o antropólogo Roberto Augusto DaMatta, 72, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ruth Cardoso revolucionou o papel de primeira-dama no país.

“Ela modernizou a ação social, mudou a forma como a ação social era vista pela sociedade. Ela fez uma revolução sem a gente perceber”, disse DaMatta, que conheceu a ex-primeira dama na década de 50, quando decidiu estudar antropologia.

“A dona Ruth teve um papel muito importante na minha formação, ela foi uma referência para o meu panorama. Nós tivemos uma convivência intensa durante muito tempo e, mesmo depois de ela se tornar uma pessoa pública, ela nunca deixou de me atender. Sempre manteve a mesma delicadeza e educação. Para mim, fica a perda de uma amiga que sempre me incentivou. O Brasil perdeu uma pessoa muito boa.”

Gilberto Velho, 63, professor titular de antropologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro também lamentou a morte da ex-primeira dama, orientadora da tese de doutorado de Velho, em 1975.

“Eu a conheço há mais de 30 anos. Dona Ruth desenvolveu a carreira com muita competência, sempre preocupada com a política social. Ela manteve uma postura ética e uma civilidade exemplares. Era uma pessoa impecável. Portanto, é uma grande perda”.

(extraído do site Globo.com, nesta data)

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