As antenas parabólicas penduradas nas janelas em Berlin estão associadas aos estrangeiros. Elas fazem parte da luta e dos dilemas da integração sem assimilação cultural. São objeto e emblema da resistência cultural de grupos que aqui vivem há gerações, e que aqui encontraram refúgio contra as mazelas da guerra e destruição de sua terra de origem.
Associadas aos Arabes e Turcos, as antenas parabólicas são um elo de ligação entre essas pessoas que tentam refazer suas vidas e reconstruir identidades na Alemanha, e seu local de origem mais remoto, onde deixaram parentes e familiares, e para onde são re-encaminhados diariamente, a cada vez que são apontados como ESTRANGEIROS.
Na medida em que se conhece um pouco mais da dinâmica social nessa cidade, percebe-se que essa categoria "estrangeiro" é um das mais complexas que se pode encontrar. Complexa especialmente porque não se trata dos inúmeros turistas que visitam a cidade e tampouco de habitantes temporários, recém chegados ou de passagem. Complexa porque na maioria das vezes inclui pessoas que nasceram aqui, que não conhecem outra pátria e outro modo de vida. Ainda assim, são remetidos a buscar identificação em outros lugares, entre outras pessoas. A antena parabólica desempenha um papel de ligação com uma identidade ancestral que eles buscam vivenciar, já que a identificação como alemão lhes é negada numa base diária. Daí o papel central da televisão, via antena parabólica, na construção da identidade subjetiva.
Nos processos de interação social a identidade do sujeito pode ser reificada ou mesmo reinventada, na busca pela construção de sentido e no desejo de dar coerência ao vivido. Em muitos casos, o sentido construído inclui também as imagens obtidas na televisão estrangeira, ou seria na televisão nacional dos estrangeiros? Quem souber, responda!
2 comentários:
Maravilhoso...amei o texto
tentei ser sua seguidora no diário da maluzinha, mas é só para leitores convidados não é?
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