Diversidade Cultural. Cidadania. Cultura Popular. Semiótica e Interpretação.

domingo, 3 de outubro de 2010

Novelas

Gosto de novelas. Sempre gostei. A novela é também um gênero literário, com características próprias, em geral são mais curtas e mais simples do que o romance. Gosto delas também. Mas me refiro 'as novelas de televisão mesmo. Assisto, analiso e comento.

Ao contrário da maioria das pessoas que nutre o hábito da leitura, não tenho nada contra assistir televisão, e acredito mesmo que ler e assistir tv são experiências que se complementam de uma certa forma, ou pelo menos, pode-se estabelecer um diálogo entre elas.

Assistir tv não precisa obrigatoriamente ser uma experiência passiva. Depende da qualidade da audiência e a interação, ou audiência ativa, varia em grau. Mas certamente se trata de uma experiência ativa. Assim como no tempo do teatro popular shakespeareano, em que a platéia podia gritar, aplaudir e até mesmo jogar tomates nos atores. A participação popular nas novelas de tv se expressa de diversas formas: de forma mais direta, os expectadores de uma novela participam nas decisões sobre os rumos e destinos dos principais personagens, através de grupos de consulta.
A população reage nas ruas hostilizando atores que interpretam vilões e enviando mensagens de incentivo e também elogios aos mocinhos e galãs, numa forma mais mediada de participação.
De forma mais indireta, os temas das novelas extrapolam as telas de tv e invadem as conversas de corredor durante os intervalos de outras atividades, trazendo para o debate valores morais, questões éticas e de comportamento.
O que é mais comum no Brasil e expressa nossa forma de lidar com todas as coisas: as piadas. Personagens de novelas sempre viram piadas e são utilizados cotidianamente em brincadeiras entre colegas e piadinhas de situação.
Por exemplo, a novela Caminho das Indias resultou em muita piada sobre o tema da subordinação da mulher no contexto familiar e sobre o papel da sogra.
Novelas como O Clone, ou mais recentemente Escrito nas Estrelas, trouxeram debates sobre os limites da ciência e a relação entre medicina e espiritualidade, e em última análise, tocam no debate ciência versus religião.
Quando se tenta falar em novelas com um pouquinho de seriedade, especialmente num contexto de sala de aula, a primeira pergunta que surge é: a novela retrata o mundo real?
Essa resposta nunca é simples e me pergunto quantas pessoas conseguiriam formular uma explicação em poucas palavras??? Vou ousar uma tentativa de síntese, no modo como entendo.
Assim como na literatura, a novela é uma representação da realidade. Isso não significa que ela represente a realidade como um todo. Significa apenas que a novela esta numa relação com a realidade. Ela não é a realidade e não é o retrato da realidade. Não pretende ser e não tem como ser real.

A novela é uma representação.

Mesmo tendo consciência de que essa expressão simplificada do significado das novelas e do seu papel no mundo não facilita muito a compreensão integral do que está envolvido aqui, acredito que ela serve para colocar esse debate em outros termos. Em termos que nos permitem explorar conceitualmente o sentido e os significados das novelas.

Uma voz dentro de mim comenta:
Que bom, complicou ainda mais!!! Now, enjoy!
Você nunca mais vai ver novelas como antes...

Nenhum comentário: